Li outro dia que os olhos humanos percebem 10 milhões de cores. Vou ser sincera, não sei se fiquei mais surpresa por saber a capacidade de percepção dos olhos humanos ou se pela infinidade de cores que podem existir.

Independentemente da minha surpresa, em um mundo cada vez mais imagético, há que se pensar no poder do sentido da visão. Pergunto: com que olhos captamos o mundo?

Nossas histórias de vida vão construindo lentamente invisíveis lentes sobre nossos olhos. Um filtro que vai se formando pouco a pouco pela correria, pelas responsabilidades, pelos medos, frustrações, culpas, impaciências, raivas, traumas, pressa, cansaço. E que por isso veem pouco da verdade, do que vai além das telas (de qualquer uma delas, sejam grandes telas presas na parede, sejam aquelas que cabem na palma da mão). Dessas telas, que chamo de janela ilusória, vemos as pessoas e suas vidas. E supomos conhecê-las. Supomos nos apresentar ou conviver.

Mas de tanto ver sob lentes, de tanto olhar essa janela inventada, nossos olhos, pobres de nós, vão com o tempo se apagando. Olhamos e não vemos. E ainda, ouvimos menos, saboreamos menos, cheiramos quase nada. Sentir? Tato? Ah, hoje em dia são cotovelos que se tocam ou soquinhos comportados e cuidadosos.

Mas, apesar de todo o rigor de cuidados, quero aproveitar que estamos a sós, você e eu, para confidenciar uma coisa…

Shiiiiiu… é sobre a cegueira… Aquela cegueira que tenta evitar sentir. Ficamos todos cegos para a dor e o sofrimento apesar de vivermos tempos de tantas pessoas tristes e deprimidas. Cegueira de entender o que é felicidade genuína (que é muito, muito diferente de prazer). Não enxergamos quem somos, desconhecemos nossa verdadeira identidade e nosso genuíno propósito. Privados de nossos olhos límpidos, nosso poder de visão é muito raso.

Então, aqui entre nós, quero te fazer um convite. Quer arriscar tirar as lentes? Pare de olhar por um tempo a janela ilusória. Convido você a andar na praia ou no meio das árvores e resistir à tentação de registrar a imagem pelas câmeras do celular. Convido você a não compartilhar esses momentos, mas guardá-los somente na memória… e no coração. Aproveite, cheire o mar, sinta o cheiro das árvores. Pés descalços, sinta com todo o seu corpo o toque da areia ou a terra molhada. Experimente o sabor do silêncio e o da natureza. E purifique o paladar e a audição.

Vai parecer difícil, porque você não vai “estar” nas redes, “ver” as redes…

Ainda assim, abra o seu olhar, tire as lentes…  Você vai descobrir que os seus olhos podem ver muito mais de 10 milhões de cores. Eles poderão senti-las.

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