Escrevo esse texto depois de ter saído a poucas horas de uma Missa de Sétimo Dia. Um motorista alcoolizado atropelou dois ciclistas, um deles, o pai do amiguinho do meu filho. Embora o acontecido suscite muita inquietação, não é sobre atitudes imprudentes que quero falar hoje. Quero refletir sobre a lição de fé e amor que recebi desde a partida desse jovem pai, que com cinco filhos fez da sua vida um exemplo.

Na grande igreja Nossa Senhora do Brasil, sob o teto decorado com reproduções de pinturas da Capela Sistina, conhecidos, amigos e familiares ocupavam todos os assentos e todos os corredores que se estendem às vistas da Via Crucis em seus tons azuis e brancos. A igreja cheia e a oração ofereciam mais um lenitivo ao luto compartilhado por tantos.

Naquele momento tão triste, tão sagrado, a palavra que mais ouvi foi sobre gratidão: pela vida de um homem sereno e equilibrado. De um pai participativo e generoso. De um marido enamorado e respeitoso. De um homem trabalhador e responsável. De um cristão vivo e devotado.

Todas essas palavras de reconhecimento não querem revelar aqui um homem sem defeitos. Mas evidenciam que quando alguém estabelece uma coerência de vida, quando cultiva valores elevados e uma genuína busca de Deus, essa pessoa deixa indubitavelmente um rastro virtuoso. E como ele era um homem discreto, sua história ensina também que nossas ações podem ser reservadas, modestas, mas estando nós comprometidos com o caminho e com a direção, deixamos vestígios de luz para os outros ou para alguém.

E tive mais um ensinamento pela postura da esposa e dos filhos. Havia tristeza, sim, havia saudade e muito amor, mas havia antes a entrega em confiança a Deus, havia a honradez de uma fé verdadeira, que vai além dos discursos, além de nossas vontades terrenas, que ultrapassa nossa inadmissão. Uma confiança que se torna viva e que deixa um legado de sabedoria e devoção.

No mais, é silêncio e oração. É agradecimento e seguir em frente. Com esses exemplos que nos são dados como presentes preciosos apesar de tudo.

Por Clara Ayres

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